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domingo, 15 de agosto de 2010

AGORA É O TEMPO !

Pregue a Palavra!

Os modismos que fazem mais sucesso no meio evangelical vem dos pregadores. Os divulgadores de heresias estão nos púlpitos. As distorções bíblicas saem da boca de “profetas”. Mediante tudo isso, fica a pergunta: o pregador foi chamado para pregar a verdade do evangelho ou para propagar distorções doutrinárias? Esse artigo tem como objetivo analisar dois aspectos: o conteúdo e característica da verdadeira mensagem de Deus e a postura do genuíno pregador.

01) O conteúdo e a característica da mensagem divina.

Paulo escreveu ao jovem pastor Timóteo:

Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina(2 Tm 4.1 e 2).

Esse texto mostra a necessidade da verdadeira mensagem do evangelho, pois é uma ordenança bíblica e essencial para a vida da igreja. Paulo começa a sua exortação com uma “elocução solene e enfática”, assim com lembra o teólogo John Stott¹. O “conjuro-te”, é traduzido pela Nova Versão Internacional por “eu exorto solenemente”, verifica-se a importância dessas últimas palavras do “doutor dos gentios”. Esses palavras emocionadas do apóstolo Paulo, o maior teólogo do cristianismo, alerta para uma necessidade diária, a genuína pregação do evangelho.
O ministro do evangelho deve está comprometido com a pregação da Palavra. Exercer uma retórica desprovida de conteúdo bíblico, de nada vale para o pregador do evangelho. Paulo exorta ao jovem Timóteo a pregar a Palavra, não as suas qualidades, idéias, conceitos e opiniões, mas somente a Santa Escritura; como escreveu John Stott: “Não temos nenhuma liberdade para inventar a nossa mensagem, mas somente para comunicar 'a palavra' proferida por Deus e agora entregue à Igreja, em sagrada custódia”².
O sentido do verbo pregar no grego, dá a idéia de “proclamação em praça pública”, pois a Palavra não deve ser secreta, mas exposta a todos.
Qual o contéudo da mensagem bíblica e como se pode identificar?

a) a pregação divina está constantemente preparada pela consciência da urgência kerigmática.

O verbo ephistëmi, "instar", significa “estar à mão, estar pronto”³. Como o bombeiro está sempre pronto para socorrer em emergências, o ministro da Palavra deve sempre está pronto para socorrer o perdido com as Escrituras. Isso demanda tempo e busca de capacitação, sendo assim, o pregador deve constantemente trabalhar com a sua principal ferramenta, que é a Palavra de Deus. O bombeiro desatento e despreparado, será uma tragédia para a sociedade que solicitou a urgência de seu trabalho, o mesmo acontece com o ministro que negligencia o seu trabalho, pois causará danos a comunidade cristã sob sua liderança.
Pedro exorta: “estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que pedir a razão da esperança que está em vós”(1Pe 3.15b), essa preparação é espiritual, intelectual e emocional, para lidar com diversas situações no ministério, como heresias, membros viciados em pecados, membros com problemas de ordem material ou emocional etc.
A preparação, portanto, é bíblica e necessária para todos os pregadores do evangelho. Quantos “sermões” são como comida de rua, preparadas de qualquer forma? Há aqueles que dizem: “Irmãos, eu quando cheguei nesse púlpito, não sabia o que ia pregar. Quando sentei nesse altar santo, logo o Senhor me disse: 'Filho, pregue tal coisa', e eis que estou aqui, para pregar aquilo que Deus quer”. Isso pode até soar espiritual, mas demostra falta de preparo, pois estudar e fazer um sermão em casa, antes do culto, é uma prática necessária e saudável para o rebanho. Quem disse que Deus não fala por meio de um sermão com esbouço, preparado com tempo e zelo?

b) a pregação divina é em todo tempo.

A pregação não deve ser feita, somente, quando é conveniente pregar. Paulo exorta a pregar em tempo e fora de tempo. Aqui não há um ensino para o pregador ser importuno ou agir sem bom-senso. Essa palavra paulina é que o pregador deve sempre entregar a mensagem divina, não quando for o melhor para ele, mas em qualquer momento.
A pregação deve ser feita quando se está debaixo de aplausos, mas também, quando se encontra debaixo de vaias. A pregação deve ser feita em lugares confortáveis, nas plataformas das catedrais, assim como nos vales e montanhas desse vasto mundo. A pregação deve ser feita entre os amigos, mas não se pode esquecer da homilia aos inimigos. Deve-se pregar na manhã de sol, mas também na noite chuvosa. Pregar no momento conveniente ou inconveniente.

c) a pregação divina redargua.
A palavra grega elegcho é traduzido por redarguir na Almeida Corrigida(RC); na Nova Versão Internacional (NVI) e Almeida Atualizada(RA), o verbo é traduzidor por corrigir; e na Bíblia de Jerusalém(BJ) é traduzido pelo verbo refutar. Elegcho traz a idéia de “provar, convencer, reprovar, repreender. Indica o falar com outra pessoa de tal modo que, se ela se chegar à confissão de fé, pelo menos fique convicta de seu pecado”4.
A pregação tem uma função corretiva. É preciso expor o pecado e o erro, mas sempre com bom-senso. O objetivo central de uma pregação corretiva é levar o ouvinte ao arrependimento e não expor alguém ao ridículo, denegrindo e difamando aquele que ouve a mensagem. A correção não agrada aquele que necessita dela, por esse motivo, o pregador não deve temer expor a mensagem, caindo na tentação de agradar a todos.

d) a pregação divina repreende.

O palavra epitimao significa “reprovar, repreender. A palavra denota, no Novo Testamento, a idéia de censura e admoestação severa”5. A pregação cristã não é um emaranhado de palavras agradáveis aos ouvidos dos pecadores, ou seja, de toda a humanidade. A diferença do verbo anterior, é que repreender dá uma idéia de combate enérgico por meio das palavras. Pessoas de mal testemunho e os promotores de heresias, precisam ver uma reprovação severa da comunidade cristã, em especial do ministro da Palavra. Não deve haver tolerância para os sectários.
Quantos pastores não estão comungando com hereges? Quantos estão convidando unicistas, judaizantes, angelólatras para pregarem no púlpito de suas igrejas? Quantos não perderam a visão apologética da fé neotestamentária, ao ponto de aceitar um negador da Trindade, como convidado especial de suas conferências?

e) a pregação divina exorta

A palavra grega, que foi traduzida pelo verbo exortar, é parakaleo. A exortação no NT significa um encorajamento e consolação. O Espírito Santo é conhecido como o Paracleto, o Consolador. Parakaleo é da mesma raiz de paracleto, ou seja, a mensagem divina tem por objetivo o encorajamento dos fracos e debilitados na fé, assim como traz conforto aos atribulados.

02) A postura do pregador bíblico

Mediante o exposto acima, o versículo em apreço ensina ao ministro da palavra a sua postura como servo de Deus.
O pregador teve ter paciência, pregando a Palavra com toda a longanimidade. Como lembra o pr. Antonio Gilberto:

A paciência como fruto do Espírito é inestimável na vida e trabalho do ministro do Evangelho. É preciso paciência na preparação- oração, estudo da Bíblia, treinamento e desenvolvimento. É necessária na liderança e ministração das pessoas.6

Essa postura cristã é a manifestação do caráter de Cristo na vida daquele que prega a Palavra do Senhor. A perseverança deve ser constante no ministério cristão. John Stott observa: “Mesmo sendo solene o nosso comissionamento, e urgente a nossa mensagem, não se justifica uma conduta rude ou impaciente”7. Russell Norman Champlin cita em seu comentário, uma frase de Bahnsen, que expressa a maneira como se deve pregar ao inconstante: “Os homens deveriam compreender o que ouvem, aprendendo a perceber por que razão são repreendidos”8. A mensagem sempre deve ser transmitida com amor e esperança na restauração do ouvinte( 2 Tm 2.25-26).
Além de paciente, o ministro da palavra deve ser um mestre, um professor ao seu rebanho. Paulo destaca a importância do ensino doutrinário, pois a doutrina (gr. Didachē) é o ensino sistemático das verdades bíblicas. O ministro dever ser “apto para ensinar” e “manejar bem a palavra da verdade”, nos dizeres paulinos.
Existe diferença entre ensinar e pregar? Sim, há diferenças. No meio evangelical e pentecostal é comum considerar pregador, aquele que tem um eloquência, com mensagem motivacional e que fale aos domingos à noite. Biblicamente falando, pregador é aquele que transmite a mensagem das boas novas ao perdido, é a kèrygma, ou seja, a proclamação da Sagrada Escritura, com apelos ao arrependimento. O ensino é a instrução evangélica aos crentes em Jesus, doutrinando com as verdades centrais da cristandade.
O ensino doutrinário é, em muitas congregações, deficiente. Alguns cultos de doutrina, só ficam no nome, pois se fala de usos e costumes, de testemunhos, de manifestações exóticas atribuídas ao Espírito Santo, mas a doutrina é que menos se fala. Muitos leitores desse texto talvez nunca ouviram uma pregação do culto de domino a noite, com o título: “Jesus Cristo- Verdadeiro Deus, verdadeiro homem” ou “A mortificação da natureza pecaminosa” mas certamente já ouviram mensagens triunfalistas, do tipo, é “só vitória”.
É tempo de despertamento doutrinário, pois sem a Palavra de Deus, o povo perece. Como escreveu John MacArthur: “a pregação bíblica correta deve ser sistemática, expositiva, teológica e teocêntrica”9.

Referências Bibliográficas:

1- STOTT, John. Tu, porém. 1 ed. São Paulo: ABU Editora, 1982, p. 57.

2- Idem.

3- RIENECKER, Fritz e ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. 1 ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985, p. 479.

4- Idem.

5- Idem.

6- GILBERTO, Antonio. O fruto do Espírito. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, 84.

7- STOTT, John. Tu, porém. Idem.

8- CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. 1 ed. São Paulo: Milenium Distribuidora Cultural Ltda, 1979, p. 398.

9- MacARTHUR, Jonh. Pregação Superficial. Revista Fé para Hoje. Cidade, Ano 2007, n. 30.

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